A intoxicação exógena é caracterizada pela exposição a agentes químicos, biológicos ou físicos de origem externa e representa um desafio significativo para a saúde pública, demandando uma abordagem abrangente e multifacetada para sua compreensão e mitigação.
A análise epidemiológica desses dados é essencial para identificar padrões temporais e geográficos, grupos populacionais mais vulneráveis e fatores de risco associados, bem como para orientar a formulação de políticas de prevenção e intervenção eficazes. Neste contexto, este boletim busca fornecer uma visão detalhada da distribuição da intoxicação exógena no território nacional, destacando suas tendências, características clínicas e impactos na saúde pública.
Os dados de intoxicação exógena dos anos de 2014 a 2022 foram extraidos do SINAN com uso da biblioteca PySUS (© Copyright 2016, Flavio Codeco Coelho), processados e tratados utilizando linguagem Python e SQL.
Para isso, um script python (.py) foi desenvolvido com algoritimos responsáveis pela coleta, processamento e exportação dos dados em um banco de dados SQLite (.db). Este banco de dados é utilizado pelo script em formatoRmarkdown para visualização e interpretação dos dados.
O estado do Paraná apresentou a maior incidência nos anos avaliados (1086.98 por 100.000 habitantes), seguido pelo Distrito Federal (1080.57 por 100.000 habitantes). A menor incidência ocorreu no estado do Amapá (48,43 por 100.000 habitantes) no mesmo período (fígura 1). Quando analisada por região do Brasil, a maior incidência de intoxicação exógena ocorreu no sul (762.24 por 100.000 habitantes), representado na tabela 1.
Região | Número de casos | Incidência |
---|---|---|
Sudeste | 603803 | 691.26 |
Nordeste | 271935 | 490.95 |
Sul | 235738 | 768.24 |
Centro-Oeste | 106309 | 644.60 |
Norte | 46119 | 258.59 |
Na análise temporal da incidência por região (figura 2), observa-se uma progressão ao longo dos anos a partir de 2015, exceto na região nordeste, em que, diferente das demais regiões, a incidência cai no ano de 2016. Há um pico de incidência no ano de 2019 para todas as regiões do Brasil, seguido de queda no ano seguinte.
Os agentes tóxicos que mais causaram intoxicação exógena nos anos analisados foram medicamentos (50.3%), seguidos por abuso de drogas (12.89%). Já os agentes tóxicos com menor ocorrência foram os produtos químicos (2.72%). É importante ressaltar que 8.99% das notificações não possuem informação relacionada ao agente tóxico, sendo que dessas, 7.38% simplesmente não foram preenchidas, levando a uma perda considerável de informação (tabela 2). A via digestiva foi a via de exposição mais relatada, com 79.55% dos casos (tabela 3).
Agente Tóxico | Ocorrência | Porcentagem(%) |
---|---|---|
Medicamento | 635757 | 50.30 |
Drogas de abuso | 163008 | 12.90 |
NA | 93321 | 7.38 |
Alimento e bebida | 77253 | 6.11 |
Produto de uso domiciliar | 65832 | 5.21 |
Raticida | 46084 | 3.65 |
Agrotóxico agrícola | 42792 | 3.39 |
Produto químico | 34313 | 2.71 |
Outro | 32843 | 2.60 |
Ignorado | 20333 | 1.61 |
Agrotóxico doméstico | 16424 | 1.30 |
Cosmético | 12023 | 0.95 |
Produto Veterinário | 11183 | 0.88 |
Planta tóxica | 8061 | 0.64 |
Agrotóxico saúde pública | 2447 | 0.19 |
Metal | 2230 | 0.18 |
Via de exposição | Número de casos | Porcentagem(%) |
---|---|---|
Digestiva | 1005591 | 79.56 |
Respiratória | 105996 | 8.39 |
NA | 90285 | 7.14 |
Cutânea | 34244 | 2.71 |
Ignorado | 12499 | 0.99 |
Ocular | 7328 | 0.58 |
Outra | 4197 | 0.33 |
Parenteral | 3464 | 0.27 |
Transplacentária | 199 | 0.02 |
Vaginal | 101 | 0.01 |
Os adultos apresentaram a maior ocorrência de intoxicação exógena, com 40.35% dos casos na faixa etária de 20 a 39 anos e 19.25% na faixa etária de 40 a 59 anos (tabela 4). Do total de casos notificados, 58.12% eram do sexo femino e 13.38% dos casos possuiam ensino médio completo (tabela 6).
Faixa etária | Número de casos | Porcentagem (%) |
---|---|---|
1 a 4 anos | 122403 | 9.68 |
10 a 14 anos | 54106 | 4.28 |
15 a 19 anos | 175457 | 13.88 |
20 a 39 anos | 535558 | 42.37 |
40 a 59 anos | 243177 | 19.24 |
5 a 9 anos | 36699 | 2.90 |
60 a 64 anos | 21537 | 1.70 |
65 a 69 anos | 13622 | 1.08 |
70 a 79 anos | 13870 | 1.10 |
<1 Ano | 15784 | 1.25 |
>80 anos | 6418 | 0.51 |
indefinido | 25273 | 2.00 |
Sexo | Número de casos | Porcentagem(%) |
---|---|---|
F | 734438 | 58.11 |
I | 247 | 0.02 |
M | 529219 | 41.87 |
Escolaridade | Número de casos | Porcentagem (%) |
---|---|---|
NA | 103839 | 8.22 |
1º a 4º série incompleta | 43404 | 3.43 |
4º série completa | 26687 | 2.11 |
5º a 8º série incompleta | 112019 | 8.86 |
Educação superior completa | 28172 | 2.23 |
Educação superior incompleta | 25780 | 2.04 |
Ensino fundamental completo | 62800 | 4.97 |
Ensino médio completo | 169337 | 13.40 |
Ensino médio incompleto | 107253 | 8.49 |
Ignorado | 416285 | 32.94 |
Não se aplica | 168328 | 13.32 |
Do total de casos notificados nos anos avaliados, 75.71% evoluiram para cura sem sequela e 0.86% para óbito decorrente da intoxicação exógena (tabela 7). Além disso, 43.96% dos casos foram tentativas de suicído, sendo essa a maior circunstância para a intoxicação, como demonstrado na figura 3. O local em que mais houveram exposições foram as residencias (69.03%) (tabela 8).
Evolução | Número de casos | Porcentagem (%) |
---|---|---|
NA | 120567 | 9.54 |
Cura com sequela | 20420 | 1.62 |
Cura sem sequela | 956736 | 75.70 |
Ignorada | 123852 | 9.80 |
Perda do seguimento | 28319 | 2.24 |
Óbito por intoxicação exógena | 10830 | 0.86 |
Óbito por outra causa | 3180 | 0.25 |
Local da exposição | Número de casos | Porcentagem (%) |
---|---|---|
NA | 228120 | 18.05 |
Ambiente Externo | 71523 | 5.66 |
Ambiente de trabalho | 48538 | 3.84 |
Escola/Creche | 6868 | 0.54 |
Outro | 30222 | 2.39 |
Residência | 872748 | 69.05 |
Serviços de saúde | 4825 | 0.38 |
Trajeto de Trabalho | 1060 | 0.08 |